Uma crônica para desenferrujar.
Estava feito. O povo estava morto.
Foi à muitas centenas de anos atrás. A grande chuva havia ceifado
quase todas as vidas pobres do planeta. Também pudera, não era para qualquer um
pagar a entrada em uma arca. Morreram após o quinto dia útil. Havia a herança.
Nem sequer sabiam que um grande dilúvio
assolaria o planeta.
A viagem começou no momento em que a última mala foi
embarcada.
Ali estava toda a alta sociedade do mundo. Os requisitos para a empreitada eram simples: Quitar a reserva para o embarque e ter casais de animais selvagens, de forma a não haver mais de um casal de uma mesma espécie.
Ali estava toda a alta sociedade do mundo. Os requisitos para a empreitada eram simples: Quitar a reserva para o embarque e ter casais de animais selvagens, de forma a não haver mais de um casal de uma mesma espécie.
A arca navegou à deriva por meses a fio, jogos não cessaram,
alimentos não faltaram e nem remos. O que faltaram na arca foram remadores.
Ninguém estava interessado em remar, apesar de preocuparem-se constantemente com
o destino.
No momento antecedente à saída, a arca estava ancorada no
litoral. Foi possível ver de camarote e com total segurança toda aquela água
cair do céu e varrer a terra levando junto o desespero dos que não conseguiram
embarcar. A partida foi acompanhada de suplício pelos animais que ocupavam o
porão e de extrema alegria e exaltação nos camarotes.
Quando ecoou o aviso de que todo o planeta era água e que
certamente aqueles na arca eram os únicos sobreviventes, reinaram a lágrima e a
tristeza no porão, somente. Choraram apenas os animais enjaulados.
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Tércio Moreira