sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A arca

Uma crônica para desenferrujar.

Estava feito. O povo estava morto.
Foi à muitas centenas de anos atrás. A grande chuva havia ceifado quase todas as vidas pobres do planeta. Também pudera, não era para qualquer um pagar a entrada em uma arca. Morreram após o quinto dia útil. Havia a herança. Nem sequer  sabiam que um grande dilúvio assolaria o planeta.
A viagem começou no momento em que a última mala foi embarcada.
Ali estava toda a alta sociedade do mundo. Os requisitos para  a empreitada eram simples: Quitar a reserva para o embarque e ter casais de animais selvagens, de forma a não haver mais de um casal de uma mesma espécie.
A arca navegou à deriva por meses a fio, jogos não cessaram, alimentos não faltaram e nem remos. O que faltaram na arca foram remadores. Ninguém estava interessado em remar, apesar de preocuparem-se constantemente com o destino.
No momento antecedente à saída, a arca estava ancorada no litoral. Foi possível ver de camarote e com total segurança toda aquela água cair do céu e varrer a terra levando junto o desespero dos que não conseguiram embarcar. A partida foi acompanhada de suplício pelos animais que ocupavam o porão e de extrema alegria e exaltação nos camarotes.
Quando ecoou o aviso de que todo o planeta era água e que certamente aqueles na arca eram os únicos sobreviventes, reinaram a lágrima e a tristeza no porão, somente. Choraram apenas os animais enjaulados.


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Tércio Moreira