sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A arca

Uma crônica para desenferrujar.

Estava feito. O povo estava morto.
Foi à muitas centenas de anos atrás. A grande chuva havia ceifado quase todas as vidas pobres do planeta. Também pudera, não era para qualquer um pagar a entrada em uma arca. Morreram após o quinto dia útil. Havia a herança. Nem sequer  sabiam que um grande dilúvio assolaria o planeta.
A viagem começou no momento em que a última mala foi embarcada.
Ali estava toda a alta sociedade do mundo. Os requisitos para  a empreitada eram simples: Quitar a reserva para o embarque e ter casais de animais selvagens, de forma a não haver mais de um casal de uma mesma espécie.
A arca navegou à deriva por meses a fio, jogos não cessaram, alimentos não faltaram e nem remos. O que faltaram na arca foram remadores. Ninguém estava interessado em remar, apesar de preocuparem-se constantemente com o destino.
No momento antecedente à saída, a arca estava ancorada no litoral. Foi possível ver de camarote e com total segurança toda aquela água cair do céu e varrer a terra levando junto o desespero dos que não conseguiram embarcar. A partida foi acompanhada de suplício pelos animais que ocupavam o porão e de extrema alegria e exaltação nos camarotes.
Quando ecoou o aviso de que todo o planeta era água e que certamente aqueles na arca eram os únicos sobreviventes, reinaram a lágrima e a tristeza no porão, somente. Choraram apenas os animais enjaulados.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ser pai

Hoje, estou voltando a postar no meu blog. Amanhã o meu filho, Theo,faz seis meses, e afinal ele foi a inspiração para este texto. No mais, espero postar toda sexta-feira até mais tardar no domingo.

Não tenho dormido muito nas manhãs de sábado e feriado. Mas tenho acordado com um sorriso lindo e espontâneo ao meu lado. Esse sorriso careca que me estimula e me faz sorrir também. Não existe estresse e não  há preocupação enquanto ele me olha com essas duas bolinhas morenas.
Penso que ser pai é um presente, um chamado a todos os melhores sentimentos e sensações do universo humano. É um desejo de aprender para poder ensinar. É rezar para que a dor, doa em nossa carne em vez de doer no nosso gitinho. Ser pai é um aprendizado constante de nós mesmos. Esta viagem constante de conhecimento que nos liberta dos preconceitos, desde que tenhamos sido preparados para o respeito.
Quando filhos, aprendemos. Quando pais, aprendemos em dobro. Percebo que o amor, o respeito e a amizade não são ensinados. Que não são com regras e com frases que estes são repassados, mas sim com a convivência. Estas dádivas são assimiladas pelo exemplo e pelo desejo de se igualar, como andar, falar e gargalhar.
O filho é uma mente aberta para o conhecimento e para a novidade. Mas deve-se respeitar a ingenuidade, não repassarmos nossos medos e nossas frustrações. Lembre-se, um pai não é um livro de respostas e nem mesmo uma bula, mas, um manual para que o filho faça suas escolhas e sinta-se apoiado a construir seu próprio caminho.